- Eu senti pena dele. É claro, havia outras coisas que sentia por ele também... Mas, naquela época, ele era absurdamente lamentável. Ele estava completamente convencido de que estava condenado pelo resto da eternidade e, portanto, se isolou de tudo e de todos que ele conhecia e amava: a casa dele, família, amigos monges, mesmo a própria natureza. "Que fracasso eu me tornei," ele murmurou para mim.
"E, porque eu salvei a vida dele, eu me senti responsável. Eu me senti responsável pela infelicidade dele, as dúvidas e a confusão. Eu era a razão por ele se sentir tão perdido e sozinho. Se ele tivesse simplesmente morrido, se eu tivesse deixado que ele morresse, ele não teria sofrido. Então… eu tomei isso para mim para aliviar o sofrimento dele. Ele precisava de algum lugar para pertencer, então eu fiz que ele pertencesse a mim."
Os olhos de Rin ficaram arregalados.
-Vocês casaram!
-Fomos. – a mestra replicou – A minha marca nele foi... purificada. É como um divórcio.
-Por quê? – Rin perguntou.
- Quando os primeiros peregrinos falharam, eles mandaram outro grupo alguns anos depois. Aconteceu de nós estarmos no lugar errado na hora errada, e ele foi visto. Eles pensaram que eu o havia raptado e que o estava... usando contra a vontade dele, e eles me atacaram e o levaram. – a mestra não escondeu as lágrimas – Eu fiquei muito ferida e, sinceramente, muito perto da morte. Além da minha própria dor, por causa da marca e da nossa união, eu pude sentir a dor dele. Ele estava assustado, preocupado, com raiva, confuso e… envergonhado. Ele ficou com vergonha que eles o tivessem visto assim, que o tivessem visto comigo, tivessem visto a minha marca nele.
"Quando você está ligado com alguém, irmãzinha, não há dor pior que a da separação... Eu pensei que morreria com as alas e os sutras e os bastões sagrados. Mas não. Eles levaram Shen para o templo em Xiagze, e eu sabia que ele estava lá; Eu pude sentir a dor dele, sentir a luta dele, mas não podia fazer nada. Tudo que eu pude fazer foi ficar do lado de fora da barreira e esperar ter um vislumbre dele."
A mestra fungou.
- Podiam pensar que depois de tanto tempo, a pessoa simplesmente cansa de esperar. Fica com fome ou com sede, com frio ou ensopado, com raiva e frustrado e... Você não pode ir embora. É essa força. Eu estava fixa naquele ponto até eu vê-lo de novo.
-E você o viu?
-Não depois de muitos anos, seis, eu acho. Ele estudou naquele tempo por seis anos, e quando eu o vi, ele havia envelhecido. Ele tinha 28 quando o levaram. Ele tinha 34 quando ele… retornou, eu acho.
Eu notei mais ou menos um ano depois que ele foi levado que eu parei de receber coisas da conexão dele. Por um momento eu pensei… - ela perdeu a voz por um momento e simplesmente ficou sentada e chorou – Por um momento... – ela continuou – Eu pensei que ele havia morrido. Eu senti uma dor muito aguda e severa vinda dele e depois... nada. Mas… eu não o senti partir. Eu não senti como se ele tivesse se afastado de mim. Na verdade, eu não senti mais nada vindo dele, mas eu sabia que ele estava lá.
Então, eu esperei.
-Por seis anos. – Rin disse, um pouco espantada – Sem comida, sem água, sem abrigo, sem dormir.
-Youkais são criaturas resistentes, irmãzinha. Nós precisamos de muito pouco em termos de sobrevivência. E quando você casa, a prioridade principal é sempre o seu companheiro. O resto é... insignificante.
-Então você o viu e ele estava mais velho.
A mestra assentiu.
- corri até ele para ver se ele estava bem, e… ele estava mudado. Eles o haviam mudado. A marca dele foi purificada, e ele disse… - as lágrimas recomeçaram – Ele disse que tinha sido absolvido por viver uma existência tão pecaminosa! Ele disse que tinha sido perdoado e que agora estava no caminho correto, o caminho reto, o caminho em linha estreita! Ele era agora um só com o "Caminho", e que ele NÃO precisava mais de mim.
As lágrimas haviam cessado, os antes sombrios olhos negros queimavam de raiva.
- Se você achou que o que ele disse hoje a mim foi rude… - Mestra Sumida zombou, uma profunda carranca estragando as feições normalmente plácidas – Você deveria ter ouvido as coisas que ele disse naquele dia. Eu queria matar aqueles monges, depois matá-lo… e depois morrer, também. – ela respirou muito profundamente e exalou, o rosto começando novamente a parecer o dela – Eu o deixei ir. Por direito, eu podia simplesmente marcá-lo de novo. Para dizer a verdade, não existe "divórcio" numa união de youkais. Uma vez que o macho é seu ou a fêmea é sua, eles são seus para sempre. A marca é um símbolo e uma união mística, mas... você não precisa da marca para saber do seu companheiro. Você não precisa da união para saber realmente como eles se sentem.
Retirado da fic In a Diferent Light