Caminhava ao lado de meu irmão do modo mais relaxado que conseguia, rindo de alguma coisa que o mesmo havia dito quando virávamos a esquina da nossa rua, e seus passos vão diminuindo a velocidade quando avista um grupo com cerca de seis pessoas, sendo que havia somente uma mulher. Parava no local que era indicada e observava meu irmão seguir para o grupo de pessoas.
"- Vamos logo. Não posso chegar atrasado." A voz persistente de meu irmão martelava no fundo de minha mente. "- Acontece o que acontecer, apenas faça o que eu mandar, certo?" E ouvia novamente a conversa de agora a pouco.
Encolhia-me ao sentir, estranhamente, como se tivesse levado o soco no estômago por ele, caindo com o peso todo sobre os joelhos. E com certo medo de olhar para a frente, arrastava o olhar até onde meu "aniki" se encontrava e o via, perfeitamente, sendo espancado por aquele grupo de pessoas. Estranhamente, erguia-me e caminhava em direção à minha casa, passando pelo grupo e o ignorando completamente, e quando estava próxima a mesma, olhava para trás e sorria de uma forma diabólica, como se não fosse mais "eu" naquele corpo, sendo apenas um espectador olhando de longe.
Um cara segurava o rosto de meu irmão e o virava para onde estava parada com uma mão escorada no próprio quadril. E quando uma mulher saia da casa vizinha segurando uma vassoura, a puxava bruscamente da mulher e a direcionava para o grupo, o olhar estreito e agressivo para apenas aquele que parecia o líder do grupo.
- Posso deixar passar no momento em que tirarem essas patinhas fedorentas do corpo feio do meu irmão. Mas - Escorando a vassoura contra o ombro esquerdo, virava as costas. - podemos terminar as coisas dentre de minha casa, até porque não quero que interrompam.
E de algum modo, aquela criatura à quem tinha meu rosto e minha voz, começou a caminhar em direção a casa indicada e sendo seguida pelo grupo, que por sua vez arrastava meu irmão.
E subitamente, o cenário mudava e agora era como se estivesse em cima de alguma coisa, mas não tão alto, pois conseguia visualizar todo o ambiente e expressões grotescas de cada pessoa ali. E uma movimentação de dois rapaz fez com que o cabo da vassoura voasse para os pescoços alheios e caíssem como panquecas ao chão. - Disse que poderia deixar passar no momento que tirassem as "mãozinhas" do meu irmão. O que parecia ser o líder do grupo indicou com a cabeça que era para deixar tudo nas mãos dele e apenas observarem, o que fazia com que aquela criatura sorrisse de forma cruel mais ainda. - Uma garota, sozinha, pensa que irá proteger esse insolente?- Porque insolente? Pois ele não quis seguir as regras das horas imposta por vocês? E o que diabos pensam estar fazendo com meu irmão? A única criatura nesse mundo que pode usá-lo como bem entender sou eu, do mesmo modo que posso espancá-lo, escravizá-lo e dar-lhes ordem... Mas como devem imaginar, sou ciumenta e odeio dividir o que, por direito, é meu. E apontando o cabo da vassoura para o cara a frente, que ficava com o corpo tenso no exato momento em que o fazia a movimentação. Dava dois passos em direção aquele brutamontes, somente de tamanho, e o encarava por um longe período de momento, mas logo desferindo um soco em direção ao nariz daquela criatura, de modo que nem conseguia acompanhar com os olhos. O mesmo, por sua vez, deslizava para o chão e levava ambas as mãos no local atingido e rosnava como um animal feroz preste a atacar. - Então você se acha um Deus para mandar em meu irmão? - Apontava o cabo da vassoura para o pescoço do rapaz a frente, olhando-me de um modo desafiador. - Devo matá-lo e tornar o seu desejo de ser Deus realidade? - Olhava de canto para a garota inquieta sentada a pouco metros daquele a quem me dirigia. - Se é um Deus, então para que precisa dessas crianças? - E olhava o rosto de todos naquele recinto, demorando-me propositalmente no rosto machucado de meu irmão. - Devo matá-lo da pior forma possível, então? Dizem que quanto mais dor um Deus sente, mais forte ele fica depois de sua morte.- Quem você pensa que é? - Um grito fazia com que girasse nos calcanhares e olhasse o rosto da garota.- Eu? Sou somente uma criança desprotegida, querendo proteger a única família ao qual eu ainda tenho. Sou apenas uma criança querendo a todo custo livrar meu irmão das mãos de qualquer pessoa maldosa. Seja você - E, apontando para o que estava ainda no chão devido ao golpe no nariz. - ou você.
De algum modo, o pau havia rolado solto no momento em que o "ou você" escapou pelos lábios daquele criatura que controlava, de algum modo, meu corpo.O que pensei logo que acordei? Que esse sonho somente prova o que eu já sabia. Eu posso morrer de ódio do meu irmão em alguns momentos, mas o amo incondicionalmente. Apesar do sonho ter sido agressivo, sei que eu preferia apanhar do que deixar que ele apanhasse.Era está a sensação de estar olhando, e não participando.De modo elegante, dava giros e fazia com que o cabo batesse agressivamente contra o corpo de muitos deles, outros pegando de leve no rosto e os fazendo desmaiar. Em poucos minutos, estava somente o líder perto de meu irmão, quase inconsciente.
- Queria transformar o rosto do meu irmão mais feio do que já é e olha somente o que lhe aconteceu. Ficou parecendo um ogro. - E puxando meu irmão pelo braço e o fazendo jogar seu peso sobre o meu, sorria. - Disse que ia lhe matar da pior forma possível e assim o farei, perfurei partes do seu pulmão e em poucos segundos irá colocar sangue para fora pela boca e narinas. E depois, irá morrer asfixiado pelo seu próprio sangue. - Girava nos calcanhares e caminhava para fora da casa, acolhendo o meu irmão contra o meu casaco e o beijando suavemente na bochecha, onde corria algumas lágrimas e um sorriso torto escapava dos lábios dele.
- Você é louca. - E ao ouvir a voz rouca e debochada dele perto de minha audição, sorria amorosamente.
- Ninguém pode te machucar além de mim.
Vach, Jéssica Villar
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